Os brasileiros são um povo doido. Futebol, uma reles forma de lazer, aqui é tratado como um dever cívico, fonte de dignidade e estímulo de luta. Quase um símbolo cívico postiço. E não é todo time ou seleção de futebol. São os times masculinos da principal categoria mais a "seleção" oficial de futebol. São estes que tem a obrigação de vencer, vencer e vencer!
A "seleção" masculina de futebol, que nunca foi muito forte nas Olimpíadas, pois o relativo desinteresse dos brasileiros pelos jogos olímpicos os desobriga a vencer de qualquer jeito (na copa , maracutaias são feitas para a "seleção" ganhar - e em copas ela praticamente só ganha, com a exceção da histórica derrota de 2014) ganhou este ano o reforço de Neymar, para tentar atrair a atenção de público e criar o clima pseudo-cívico frequente nas copas.
Mas esta Olimpíada mostrou que a seleção feminina é muito melhor que a masculina. Muita gente até ficou feliz com a atuação das meninas e sobretudo da artilheira Marta, que nunca para de surpreender.
Videogame trocado por carrinho de madeira
Mas pelos comentários que leio na internet, a alegria dos brasileiros com Marta soa meio estranha. Não é uma alegria empolgada. É a alegria típica de uma criança, que esperando ganhar o videogame mais moderno e mais cobiçado, acaba ganhando um simples carrinho de madeira. Foi bom com Marta? "Foi. Mas seria muito melhor com o Neymar".
Os torcedores querem ver Neymar atuando bem. Ele é a meta, ele é o astro, ele é o "herói" da pátria. É ele que a mídia aposta como o popularizador do ultra-massificado futebol. Futebol, como todo esporte, é essencialmente masculino e ver mulheres atuando melhor na modalidade soa inconscientemente vergonhoso. Mesmo que ninguém assuma, Marta soa apenas como uma mera compensação. O público quer mesmo é ver Neymar jogar.
Estranho que mesmo as mulheres preferem Neymar. Mesmo para as mulheres, as jogadoras da seleção feminina soam como estranhas no ninho, mulheres que representariam "melhor" seu gênero em outras ocasiões. Mas não no esporte mais popular do país. Até porque a mídia enfiou no subconsciente brasileiro que a "missão cívica" do futebol é de responsabilidade de Neymar. Como se fosse dele a "missão de salvar o país". E de mais ninguém.
A sociedade machista tem que entender que estamos em uma época de mudança de valores. Não dá para os heróis continuarem sendo os mesmos. Está mais do que na hora de enterrarmos de vez o favoritismo do futebol masculino e valorizar as meninas, que já sofrem preconceito demais por "se meter" em um terreno que"não é o delas".
Os tempos, e também seus heróis, têm a obrigação de mudar.
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