O ano de 2014 está acabando. E do mesmo jeito que começou. Um ano atrás, a população brasileira estava com exagerada expectativa, não apenas por ter a copa em seu país e a possibilidade de vitória na própria casa, mas também pela crença absurda que a copa de futebol iria mudar nossas vidas.
A empolgação poderia ser comparada à expectativa pela chegada do Messias. Há quem falasse que a copa seria um divisor de águas. Religiões inventaram que o Brasil passaria a ser líder mundial e maior potência econômica do mundo. Mas a badalada da meia noite tocou e a carruagem virou abóbora. E aqui estamos, iguaizinhos como antes do início da superestimada copa.
E não pense que a derrota humilhante, mas coerente da "seleção" foi a pior coisa que aconteceu para os brasileiros. Não foi, não, por incrível que pareça. O pior foi perceber que a copa e o futebol não foram capazes de mudar as nossas vidas. Torcemos em vão por algo tão real quanto um sapatinho de cristal, que acabou se quebrando antes de chegar às mãos do príncipe.
E o que é mais engraçado é que o ano que representou a maior derrota do futebol brasileiro de todos os tempos (com uma humilhante derrota em seu próprio lar) a, se encerra com uma inédita vitoria de Gabriel Medina no surfe, um esporte ainda impopular no Brasil, que costuma preferir esportes coletivos (praticados por equipes e não por atletas individualizados). Será que mudaremos o nosso esporte mais popular? Espero que sim, pois gosto de surfe.
Sei que é inútil dizer isso para a maioria dos brasileiros que curtem futebol , pois é bastante arraigado o mito de que o futebol nos traz dignidade e felicidade (mesmo falsa): o futebol é apenas uma diversão e deve ser encarada como tal. Quem não curte futebol, principalmente as mulheres, deve parar com esta coisa de ser obrigado a gostar em época de copa, só para se sentir incluído na sociedade. Futebol não é obrigação... Futebol não é obrigação... Uma sugestão de mantra para tentar gravar no subconsciente.
E encerramos o ano exatamente do mesmo jeito que começamos. Ou talvez pior, pois estamos cada vez mais convencidos de que o Brasil está longe de ser próspero, mesmo que a mitologia difundida pela mídia e por líderes prestigiados diga o contrário. Nossos problemas ou permanecem ou aumentam, o desemprego se estabiliza e nosso cotidiano está cada vez mais complicado para ser tolerado. O Brasil segue completamente incapaz de resolver os mínimos problemas.
Mas pelo menos estamos tentando aprender que não é a entrada de uma bola em uma trave que irá transformar a sociedade brasileira em um povo próspero e amadurecido.
Esqueçamos a carruagem do BRT de ouro e fiquemos com a abóbora. Pelo menos ela vai nos ajudar a adoçar o nosso amargo cotidiano.
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