A sucessão de denuncias de corrupção na cúpula da FIFA tem revelado um lado bem podre do entretenimento futebolístico. Mas não pensem que essas denúncias, comprovadamente verdadeiras em sua maioria, irão espantar os torcedores, fazendo-os migrar para modalidades esportivas mais honestas.
A natureza não dá saltos. E o povo brasileiro já demonstrou inúmeras vezes que não se dispõe a desistir de fontes de prazer duradouras. Pessoas que foram educadas durante muito tempo a gostar de uma determinada coisa, nunca desejam se livrar dela, pois representa o significado de alegria e bem estar por muitos anos de vida. Sair da zona de conforto não é algo fácil de se fazer da noite para o dia.
Na verdade, para a maioria dos torcedores, a conveniência será a de separar ao futebol de sua administração, o que é surreal. Boa parte dos torcedores ou tem um nível intelectual atrofiado ou simplesmente não está interessado nos bastidores do futebol. Torcedores querem ver bola rolando e entrando na trave. Honestamente ou não. Se o time preferido ganha, isso é o que interessa. Mesmo que o dirigente pague para que tal time ganhe desonestamente.
A prova e que a população gosta de separar bastidores de interesses é o fato de que muitos saíram em protestos contra a corrupção com a camisa de "seleção" com os símbolos das corruptas Nike e CBF bem claros. Obviamente saíram pensando que a camiseta simbolizava o país (para os brasileiros, a "seleção" é símbolo cívico), ignorando o verdadeiro motivo que levou a "seleção" a ser maioral. Que nada tem a ver com a suposta qualidade de seus jogadores, ídolos postiços superestimados pela população.
Fanatismo cresceu com João Havelange
Lendo o livro O Lado sujo do Futebol, soube que a transformação do futebol e da "seleção" em símbolos cívicos coincidiu com o crescimento de poder de João Havelange, brasileiro que presidiu a CBD (atual CBF) e foi o mão de ferro da FIFA. Ela foi o responsável por aumentar o prestígio do futebol para transformá-lo em inadiável compromisso cívico-social.
Altamente corrupto, Havelange viu na publicidade pseudo-cívica uma forma de transformar o futebol em uma obrigação, transformando os lucros financeiros que vinham dele em lucros garantidos, que chegavam pontualmente nas mãos de dirigentes e patrocinadores.
Afinal, sendo uma obrigação, qualquer brasileiro se sente disposto a largar qualquer gasto importante para torrar dinheiro com o futebol. E é isso que garante os lucros. Afinal "é bom para a pátria". Mesmo que nunca melhore essa mesma pátria. E na prática, é isso mesmo: futebol não melhora o Brasil: é uma mera fuga de problemas que os torcedores, intelectualmente preguiçosos em sua larguíssima maioria, se recusam a resolver.
Mesmo assim, os brasileiros não estão dispostos a abandonar o futebol. Mesmo até com jogadores e ex-jogadores corruptos (Ronaldo está envolvido no escândalo e o giga-popular Neymar dá sinais de que compactua com o esquema e até criou empresa fantasma para isso, com o apoio do próprio pai).
Mesmo que jogadores estejam envolvidos, para a população, eles são meros soldados a lutar pela pátria. A "seleção" é que é "A Pátria" e sendo institucionalizada, brasileiros nunca irão abandoná-la, mesmo que dirigentes e jogadores a abandonem.
Futebol é instituição. Povo defenderá apelando para o surreal
Para a maioria a "seleção" e os times são instituições. E o povo vai continuar cultuando-as aconteça o que acontecer. Mesmo que todo o futebol seja uma farsa. Mesmo que apelem para o surrealismo de entregar a administração do futebol para o povo, como muitos ingênuos acreditam ser possível.
As pessoas vão tentar separar os casos de corrupção com o que acontece nos gramados (a mídia já está fazendo este serviço, evitando colocar de maneira consecutiva notícias sobre os escândalos e notícias sobre o que acontece os jogos), como se os jogos nada tivessem relação com o que ocorre nos escritórios das direções dos clubes. Mas têm.
Contos de fadas aprendidos na infância geralmente custam a sair de nossas mentes crédulas. Impossível convencer torcedores a deixar essas ilusões saírem de suas mentes.
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