Os torcedores vivem reagindo mal às críticas que recebem pelo seu fanatismo acusando os que não curtem de querer eliminar o futebol da face da Terra. Longe disso! O futebol nada tem de errado por si só. O erro está no complexo mundo encantado construído em torno dele, o que faz do futebol ser algo infinitamente melhor do que realmente é.
O problema do futebol é que ele, no Brasil, não é visto como uma distração. É visto como um dever. São Paulo e Rio chegam a dividir a sociedade baseando nos times mais bem sucedidos de seus estados. Pessoas chegam a adiar compromissos sérios por causa de futebol. Brigas e mais brigas acontecem porque torcedores defendem seus times como se fossem a própria vida. Além do péssimo costume de colocar futebol em assuntos alheios a esta modalidade esportiva.
Vendo isso até parece que não estamos falando de uma forma de lazer e sim de um compromisso cívico imposto pelo Governo Federal. Não! É justamente do futebol que estamos falando. Os brasileiros foram "educados" a tratar o futebol como símbolo cívico e como elemento de confraternização social. Gostar de futebol, para muitos é "saber conviver com brasileiros e respeitar a humanidade". Só meio pomposo e inútil, mas é o que acontece. Mas foi para isso que o futebol foi criado? Certamente que não.
Desde que João Havelange entrou para a cúpula da FIFA, na década de 50, um imenso trabalho publicitário tem feito para transformar o futebol em uma mania. Isso foi se consagrando com o tempo e passado por muita gerações até hoje.
A época em que o futebol era apenas uma forma de lazer, de tão remota, acabou sendo esquecida. É meio difícil imaginar hoje dois brasileiros no seguinte diálogo:
- Hoje estou de folga e nada tenho para fazer. Que tal irmos ao estádio assistir a um joguinho.
- Boa, vamos lá!
Um diálogo omo esse, que se assemelha a uma pessoa convidando outra para ir ao cinema... Ah, como seria sadio. Mas não! Quando as pessoas decidem assistir a jogos de futebol, seja em estádios ou diante de aparelhos de TV, é como se fosse para ir votar nas eleições ou tirar a certeira de identidade. Um compromisso, uma obrigação inadiável.
Mas toda essa superestimação do futebol é postiça, estimulada e consagrada pela mídia, cujos donos e patrocinadores ganham muito dinheiro com o fanatismo futebolístico e por isso nunca desistem de estimulá-lo. A meta de qualquer meio de comunicação é hipnotizar a sociedade para que ela considere o futebol uma prioridade e favoreça a geração desta farta renda aos barões da mídia.
Está muito longe o dia em que o futebol retomará a sua vocação natural de mero lazer. Até agora continua sendo um dever cívico-social. Mas muitos danos serão causados pela tentativa de desviar o futebol de sua vocação original. Os brasileiros que esperam que o futebol nos traga orgulho e dignidade podem continuar esperando. Até nunca. Futebol nunca foi feito para trazer orgulho ou dignidade.
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