quarta-feira, 9 de maio de 2018

A agonia de não curtir futebol vivendo no Brasil


Estamos nos aproximando de mais uma copa de futebol. Graças a imposição social, com uma ajudinha da grande mídia corporativa, a maioria das pessoas alega gostar de futebol. Pelo menos prefere estar em ambientes onde hajam torcedores para não ficar sozinho. Pessoas ão seres sociais e ficar sozinho traz uma série de desvantagens.

Mas há quem não aguente o futebol nem mesmo para se sociabilizar. Um bom numero, não majoritário, mas ainda assim relativamente grande, de corajosos que ousam desafiar as regras rígidas do convívio social e se recusam a aderir ao hobby mais famoso da sociedade brasileira. Para estes verdadeiros heróis, a vida é árdua. Barulhos, preconceitos, tédio e muita gente chata são o que esperam aqueles que desafiam a não curtir o hiperestimado futebol.

Em estados onde há times fortes jogando em partidas transmitidas nas madrugadas de quartas-feitas, o sono passa a se tornar um tesouro raro e quase impossível de conquistar. Futebol é esporte de berrões e proibir insanos torcedores de urrarem tira a graça do hobby. Os incomodados que se virem e o direito ao barulho se sobressai ao direito ao sono. E a quinta feira de labor cotidiano já começa com olheiras e muita preguiça.

Eu falei em labor cotidiano? Imagine trabalhar em um lugar onde todos os colegas gostam de futebol, além do sádico patrão? Ter que condicionar a permanência no emprego ao gosto pelo futebol não parece algo que seja agradável de fazer. Ter que aguentar 90 minutos vendo um monte de bonequinhos correndo em uma tela verde porque o patrão entendeu ser uma manifestação de"espírito de equipe" é dose. Não raramente não vale a pena este tipo de sacrifício em prol de um emprego estressante e mal remunerado.

Namoro? Imagine você, que não gosta de futebol mas gosta de um programa bem romântico, namorar uma garota que adora futebol. Aquela tarde de domingo, sol intenso e flores por todos os cantos. Nada melhor que um programa romântico com a sua amada, não é? Mas justamente no horário de uma importante partida do time dela? Quando o time mais precisa da torcida? Coisas como esta são motivos bem justos para um fim de relacionamento, não acham?

Isso sem falar no preconceito tradicionalmente sofrido por quem se assume publicamente alheio a insanidade do fanatismo futebolístico. Não-torcedores são comumente excluídos do convívio, quando não são humilhados severamente. Não raramente sentimos um clima desagradável quando dissemos a alguém que não curtimos futebol. A reação é similar a como se estivéssemos xingando a mãe da alguém ou dizendo que a comida que o torcedor preparou é ruim. Um desastre.

São bons exemplos de como é chato para alguém que não curte futebol viver em uma sociedade que acredita na semi-unanimidade do hobby (mesmo que esta unanimidade seja falsa). E a copa está chegando para emperrar o país e deixar os hereges apavorados pelo abandono imposto e pela barulheira atmosférica. A vida não é democrática para quem se opõe à hegemonia futebolística. 

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