sábado, 23 de junho de 2018

Mídia ignora existência de brasileiros que não curtem futebol. E não é só a mídia corporativa


Ligue a televisão, de preferência nos canais abertos. Tente achar algum brasileiro que assume não curtir futebol. Não achou? E nem vai achar! Rejeitar o futebol é uma heresia que nenhuma mídia corporativa está disposta a estimular.

E na mídia alternativa? Bom, apesar de ser um pouquinho mais compreensiva com os que preferem ficar longe da onda futebolística, ainda continua dando um "chega pra lá" nos não-torcedores, preferindo jogá-los no limbo, apesar de admitir a sua existência.

Estranho que a mídia alternativa, não tão gananciosa quanto a corporativa, prefira esconder os avessos ao futebol. Sempre mais democrática que a mídia corporativa, a mídia alternativa deveria se lembrar dos que não curtem futebol e defender os direitos destes de se divertir e de sociabilizar.

Desconheço o motivo que faz com que a mídia alternativa se una ao coro pró-futebol da corporativa. Se não é financeiro - a alternativa aparentemente não ganha dinheiro com o futebol - o motivo deve ser uma isca a pescar torcedores em massa para aumentar a audiência da mídia alternativa, já que no Brasil, o numero de torcedores é drasticamente bem maior que o de não-torcedores por uma questão de senso comum.

Todos percebem que quem gosta de futebol sonha em ver o seu hobby se tornar uma unanimidade. Essa unanimidade serviria para confirmar a lenda sem sentido de que o gosto do brasileiro pelo futebol é biológico. Serviria também para tirar a ridiculosidade de priorizar uma forma inócua de lazer tradicionalmente transformada em urgente e inadiável dever cívico.

Eu mesmo confirmei inúmeras vezes este desejo dos torcedores em ver o gosto pelo futebol convertido em unanimidade nacional. Só o conhecimento da existência de uma pessoa que se recusa a agostar de futebol lhes dá calafrios. É similar ao que acontece com os evangélicos quando conhecem um ateu. "Quem é esse herege a desafiar a sabedoria coletiva?" diria algum torcedor.

Quem controla a mídia sabe muito bem que a divulgação de algum brasileiro que não curta futebol pode ser um risco para a hegemonia futebolística pelo país. Por isso que a mídia se desespera quando vê a falta de empolgação causada pela tristeza com a perda de direitos. Por isso que ela se empanha de forma hipnótica a manter a histeria futebolística de pé.

Isso acontece a ponto da plutocracia que controla a mídia e a CBF lançarem mão de recursos para impedir o desinteresse pelo futebol, que traz muito lucro aos golpistas. Apelam inclusive para o golpista Michel Temer - que segundo dizem, detesta futebol - a pedir para a população a manter seu vício no futebol. Plutocratas sabem que desinteresse pelo futebol significa menos grana entrando em suas polpudas contas nos paraísos fiscais.

Este é o motivo que faz com que os não-torcedores permaneçam invisíveis para o senso comum. A mídia, metida a democrática, nunca irá dar voz a que, não curte futebol. Sabe muito bem que quem despreza o futebol representa uma séria ameaça aos interesses financeiros de quem lucra muito com o futebol.

Melhor forjar uma unanimidade, mesmo falsa, para que a verdadeira unanimidade possa se estabelecer um dia. Fazendo muito dinheiro entrar às custas de cada entrada da bola em um gol.

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