quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A flexibilização da Educação Física e a divinização do esporte

O governo Temer anunciou mudanças drásticas no ensino médio, com o objetivo de dificultar o desenvolvimento do senso crítico, favorecendo a transformação de jovens em adultos obedientes e alienados em relação a realidade em que vivem. Dentre as medidas foi a transformação das disciplinas Artes e Educação Física em facultativas.

Obviamente que setores especializados em Educação rejeitaram a medida, por entender que as disciplinas são essenciais para o desenvolvimento pessoal dos alunos. Mas a preocupação maior foi com a Educação Física. Como é assunto temático deste blogue, vamos nos concentrar na Educação Física.

É meio controverso falar da importância da Educação Física. Primeiro, que ela raramente é lecionada, se limitando a uma chamada seguida de uma divisão dos alunos em equipe, que são dispensados para jogar (futebol para homens e vôlei/handebol para meninas), enquanto o professor ou vai embora ou fica assistindo sem avaliar. É na verdade uma recreação.

Outra coisa é que a Educação Física, na verdade nada educa. Esquerdistas de mente atrofiada costumam dizer que esporte é uma forma completa de educação, ignorando seus verdadeiros aspectos. 

Para começar, o esporte é uma atividade física que envolve competição. Basicamente é só isso. Os valores ligados a inteligência e altruísmo embutidos no esporte são postiços, não fazem parte da atividade esportiva. O esporte consegue cumprir a sua função sem a existência de inteligência e de senso de altruísmo. Uma grande prova disso é a grande quantidade de atletas alienados e egoístas existentes no Brasil.

Na verdade, há um dogma não-religioso que diviniza o esporte. Quase nunca se fala do lado negativo do esporte (autoritarismo de treinadores, estimulo ao egoísmo através da competitividade, imposição de padrões estéticos, a ocupação esportiva para desviar atletas da conscientização sócio-política, etc.), como se somente coisas boas existissem no esporte. 

A divinização do esporte é bem arraigada na sociedade brasileira a ponto dela enxergar na atividade esportiva algo que poderia ser utilizado como substituto da educação. É um perigo, pois mesmo na melhor das hipóteses, há muitos aspectos indispensáveis para a formação da personalidade humana que estão ausentes no esporte. Fora os problemas que eu citei, frequentemente ignorados em tese, mas muito observados na prática.

Por isso que a flexibilização (a desobrigação) da Educação Física incomodou muita gente. Para mim, isso não seria problema, pois a disciplina em sua prática já é uma enganação, salvo exceções. É onde a máxima "professores que fingem que ensinam e alunos que fingem que aprendem" é frequentemente mais praticada. 

Liberar alunos para ficarem competindo entre si por conta própria não me parece a melhor forma de educar mentes jovens, que entrarão no mercado de trabalho achando justo esticar a perna para outros caírem. Instintivamente, todos acham que concorrentes foram feitos para perder. Este pensamento precisava ser urgentemente contestado.

Se a Educação Física fosse encarada a sério, teríamos nela uma parte teórica com noções de biologia humana, saúde, prontos socorros e por incrível que pareça, noções de Física (que ajudariam a calcular as distâncias necessárias para arremessos bem sucedidos), coisas que fazem parte da atividade esportiva, mas frequentemente ignorados por quem endeusa a atividade esportiva. 

Se o esporte não desenvolve o intelecto,pelo menos deveria nos ensinar como funciona o corpo humano e como faríamos para obter o melhor desempenho nestas atividades. Perda de tempo querer usar o esporte para formar cidadãos. Isso é missão entregue a Filosofia, a Sociologia e a História, que tem mais condições de trabalhar a consciência humana de forma mais eficaz.

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