quarta-feira, 4 de abril de 2018

Chatos adoram chamar os não-chatos de "chatos"

É muito comum as pessoas rotularem os outros dos defeitos que elas mesmo tem. Rótulos são como bombas que ninguém quer segurar. Curioso que as pessoas sabem que os defeitos delas são defeitos, mas ao invés de eliminá-los, preferem apenas transferir os rótulos, mas mantendo os defeitos intactos e ainda gerando incômodo e danos.

Uma das situações em que isso acontece com maior frequência é quando hordas de chatos, na intenção de descontrair ou sei lá o quê, te obrigam a participar das brincadeiras que organizam. Graças a essa palhaçada chamada "espírito de equipe" que inventaram para o mercado de trabalho, obrigar os outros a se descontrair sem motivo tem se tornado rotineiros.

E olhem só quem é chamado de chato? Justamente o cara que quer ficar longe dessa chatice. Exatamente o cara que não quer chatear os outros, e também não quer ser chateado. Se você não quer participar das brincadeiras chatas de colegas ociosos que deveriam estar fazendo coisas mais importantes na hora em que resolvem chatear os outros, você é tido como chato. 

Você é pago para trabalhar, para executar tarefas para as quais você foi contratado. Então não seria obrigado a participar das brincadeiras de colegas, certo? Errado, segundo as ideologias que defendem o "espírito de equipe". Segundo essa tese, seus colegas são seus amigos e o sucesso de produtividade, coletiva que seria aceitável se limitado a atividade no trabalho, dependeria também de fatores externos ao ambiente de trabalho. Ou seja, para quem defende a tese, brincar com os colegas ajuda na sinergia do cotidiano laboral.

No Rio de Janeiro, há um exemplo onde isso e bastante comum. Cariocas inventaram essa tolice de obrigar todos os habitantes do estado a ter um time de futebol, de preferência um dos quatro mais populares. Eu não curto futebol e estou cada vez menos interessado no que acontece com cada time. 

Mas vem a horda metida a legisladora social e insiste de forma quase autoritária, mas descontraída, para que eu tenha um time. Digo que não e sou imediatamente hostilizado, como se eu quisesse acabar com a brincadeira. Eu não quero acabar com nada. Só quero que me deixem em paz e brinquem longe de mim. Principalmente quando eu, um portador de deficit de atenção, estiver concentrado no meu trabalho.

Quem gosta de futebol costuma ser bastante chato. Chato mesmo! Martelam o futebol nas cabeças dos outros, vivem obrigando os outros a ter um time, berram nos seus ouvidos, incluindo as horas de sono e o chato sou eu? Ora, seus chatos: vão saber o que significa a palavra "chato" antes de me excluir e xingar. Não é porque me recuso a participar da chatice alheia que mereço receber o rótulo de "chato da turma".

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