quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Futebol, Auto-estima e o Comportamento de Manada

Brasileiros nunca gostaram de fato de Olimpíadas. Até estavam tentando, mas as conquistas em outras modalidades não conseguiam os empolgar. Chegaram a alegrar, mas sem empolgação. Mas no sábado a coisa mudou.

Parecia que para a população brasileira, as Olimpíadas tivessem começado só no sábado, para ter terminado cerca de duas horas e meia depois. O futebol, que começou sofrível nas Olimpíadas e que nunca tinha ganho uma medalha de ouro no evento, fez a manada berrar feito doida, com uma alegria nunca demonstrada nas melhores vitórias em outras modalidades. Infelizmente brasileiros nasceram para o futebol e é pelo futebol que pretendem morrer.

Claro que a admiração do brasileiro pelo futebol é resultado de muita manipulação ideológica e lavagem cerebral. Brasileiros cresceram acreditando na falácia de que o futebol é o que nos traz dignidade. Uma ideia repetida ad nauseam e que acabou solidificada no subconsciente da maioria dos brasileiros. Tão solidificada que chega a ditar as regras em outros setores da vida.

Graças a isso, o futebol se tornou uma obrigação social. Quem não curte futebol e quer se manter longe de qualquer evento ligado a ele, é tratado pior do que bandido. Afirmar o desprezo ao futebol, mesmo sem críticas e de forma alegre e simpática, é o suficiente para gerar um clima desagradável que não raramente culmina em uma discussão amarga. Quem curte futebol geralmente sonha com a unanimidade (dá ilusão de "naturalidade") e saber que uma só pessoa não curte é um motivo suficiente para uma revoltada irritação.

Mas essa unanimidade, além de falsa, pode ser menor do que se pode imaginar. Muitas pessoas, que tem uma postura neutra em relação a modalidade esportiva, não curtem futebol de fato. Estas aderem ao gosto por imposição social ou pelo simples medo de ficarem sozinhas. Geralmente não conhecem uma pessoa que não curtam e para obter os benefícios de uma vida social, acabam tendo que fingir a adesão futebolística.

Brasileiros curtem futebol sem saber em quê ele é benéfico

É desagradável ver que a sociedade brasileira enxerga em uma reles forma de diversão o seu maior orgulho a ponto de obrigar todos os brasileiros a curti-lo. Lazer é fonte de prazer e se algo não lhe dá prazer não vale a pena aderir. Se todos são obrigados a gostar de futebol, é porque ele perdeu a sua condição de evento lúdico para ser um dever cívico-social cuja desobediência é passível de punição, no caso a exclusão social.

As pessoas agem como uma verdadeira manada, pois não sabem em quê o futebol será benéfico a elas. Todas as pessoas que são convidadas a justificar porque o futebol "é importante" para os brasileiros gaguejam ou dão justificativas irracionais. Uma prova de que a adesão maciça ao futebol é irracional, mais por uma questão de sobrevivência social do que pela busca da honra ou do prazer.

Também é evidente que a grande mídia colabora muito para que a chama do fanatismo futebolístico seja preservado. Sabe-se que quando a mídia deixa de mencionar algo, a população esquece. E a mídia sempre está ai para estimular a manada a se lembrar do futebol, pois as empresas de comunicação e suas patrocinadoras ganham muito dinheiro com o fanatismo futebolístico. O que significa que os torcedores não apenas agem como manada como também tem um peão a lhes guiar.

Esse fanatismo irracional pelo futebol é mais uma prova entre tantas (talvez a maior comprovação) de que o brasileiro é um povo infantilizado, que coloca uma brincadeira, uma ilusão, acima de interesses mais sérios e necessários. Ainda estamos bem longe da adolescência coletiva. Estamos presos nas ilusões pueris de uma simples entrada de uma bola em uma rede.

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