sábado, 9 de junho de 2018

Em véspera de campeonato de futebol, tenista Maria Esther Bueno morre diante do desprezo dos brasileiros

Tivemos ontem a notícia do falecimento da maior tenista brasileira de todos os tempos, Maria Esther Bueno, aos 78 anos. Morreu de câncer na garganta. Era o maior nome do tênis brasileiro, um esporte que, do contrário do futebol, é tratado omo mero esporte e não como dever cívico-social, tendo por isso uma pouquíssima popularidade em nosso território.

Isso explica porque o país não parou para reverenciar a sua maior atleta no tênis. Para os tenistas, a importância de Bueno é a mesma do que a importância de Pelé para o futebol. Mas o tênis não é "símbolo pátrio". O tênis não atrai multidões. O tênis nunca parou um país.

Por isso que o falecimento do maior nome do tênis brasileiro vem sendo tratado como o falecimento de uma pessoa qualquer. "Maria Esther Bueno? Quem é ela?", perguntaria qualquer desavisado, sem saber quem era ela. 

Natural para um país esportivamente monotemático achar que o tênis nunca passou de um esporte para magnatas gringos. Tênis não importa. Queremos ver gol. Matemos e morramos pelo futebol, razão de ser de um povo acomodado e medroso como o brasileiro, incapaz de lutar pelos seus direitos. Só o futebol interessa. Só o futebol é importante. Só e somente só. O resto que se exploda. 

Imagine se ao invés de Maria Esther Bueno tivesse morrido o Pelé? Obviamente o país pararia. A importância do maior jogador de um esporte que praticamente é um dever cívico - que por isso atrai até mesmo que detesta ficar 90 minutos vendo 11 bonecos correndo parla e pra cá, ansioso para berrar a cada entrada da bola na rede - vale mais a pena do que qualquer maior atleta de um esporte que não seja tão socialmente massivo e midiático.

Fico triste com o desprezo dado para uma atleta que representou muito bem um esporte bem mais interessante do que o futebol. Mas não fomos treinados pelo sistema a gostar de tênis. Por isso que o falecimento de Maria Esther Bueno soa para muitos o falecimento de uma idosa qualquer.

Triste ver um povo com vocação para diversidade negar esta mesma diversidade para a a apreciação por esportes. Temos muitos esportes, mas queremos apenas um só. Por isso que Maria Esther Bueno morre sob o mais absoluto silêncio. Lamentável. Para muitos brasileiros, ela nada significou. Não foi o Pelé que morreu. Mesmo que ela tenha sido de fato o "Pelé do tênis".

Nada contra o Pelé e seu esporte. Mas é estranho ver um desequilíbrio de atenção para o futebol em relação aos outros esportes. Quase tudo para o futebol e quase nada para o resto dos esportes. O futebol nem tem características assim para prender tanta atenção.

É mais do que explícito que os costumes sociais, com valiosa ajuda midiática, moldaram nossa suposta preferência pelo futebol. Todos sabem, mas ninguém fala: quem não adere ao futebol fica sozinho, vive sozinho e morre sozinho. Futebol é legal porque é o único esporte que atrai multidões no Brasil. No final, todos acabam admitindo isso.

Fica aqui a minha gratidão e a minha homenagem a Maria Esther Bueno, o maior nome do tênis brasileiro, um esporte que eu gostaria de praticar.

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